Política urbana brasileira: neoliberalismo, movimentos sociais e direito à cidade
Date
2023
Authors
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Publisher
UFVJM
Abstract
O capitalismo promove origem conexa entre propriedade privada e cidade. Ambas se
conformam como mercadoria, sendo a cidade compreendida como o centro de consumo que
se encontra em uma obra incessante. Os conflitos por habitação situam-se
no cerne do espaço
urbano, decorrentes de segregação socioespacial. No Brasil, tais são fomentados pela tradição
patrimonialista da propriedade privada, clientelismo do setor público e neoliberalismo
dominante no ideal social. A cidade, envolta de uma ideologia neoliberal, também cria e
estimula a competição entre os mais necessitados, pois a urbanização é sufocada pela tradição
patrimonial e a população se torna dependente de políticas pouco satisfatórias em uma relação
clientelista. A Constituição Federal (1988) e o Estatuto da Cidade (2001) abordaram
importantes dispositivos para a consolidação da função social da propriedade e da cidade,
todavia, a prática encontra resistência dos capitalistas. Os espaços vazios da cidade buscam,
por meio da especulação imobiliária, valorização e acumulação de riqueza. A conivência do
poder público, mesmo diante da conhecida massa desprovida de habitação, gera conflitos.
Ainda assim, a Constituição e o Estatuto possuem soluções para dirimir conflitos urbanos
envolvendo propriedade. Possuem mecanismos que podem atuar em prol do melhor interesse
público e elevar o princípio da função social da propriedade e da cidade à concretude.
Portanto, esta pesquisa possui como tema a urbanização brasileira e a questão fundiária,
especificando-se
para responder a seguinte questão: qual a influência do neoliberalismo na
urbanização brasileira e na luta pela efetivação do Estatuto da Cidade, no que concerne a
função social da propriedade, no âmbito do direito à cidade? Objetiva-se
descrever como o
neoliberalismo corrói a dinâmica existente entre dimensão jurídica (Estatuto da Cidade,
Constituição e demais legislações infraconstitucionais da política urbana), social (consciência
coletiva e movimentos sociais) e econômica (função social da propriedade e a habitação) da
política urbana brasileira. Divide-se
o objetivo principal em dois específicos: articular a
consolidação da política urbana brasileira neoliberal com sua crise habitacional sistêmica
decorrente do modelo desenvolvido de cidade global e propriedade privada com função social
inefetiva; e examinar a prática do direito à cidade no Brasil perceptível na atuação de
movimentos sociais que consolidaram o Estatuto da Cidade, mas que sofre com erosão
constitucional decorrente do ethos neoliberal que inviabiliza a concretização de políticas
urbanas sociais e mobilizações adequadas de coletivos. Estabelece-se
um período de análise
que parte do ponto de ruptura/estagnação da política urbana, como o ano de 2017, devido à
Lei Federal n° 13.465 que modificou o marco legal da terra no Brasil. A metodologia
utilizada possui caráter qualitativo e dedutivo, devendo se valer da análise de legislações e da
literatura jurídica especializada sobre o tema. Conclui-se
que as soluções jurídicas existem,
mas que se faz necessária uma revolução sociocultural, pois não basta existir ferramentas
urbanísticas se a participação democrática for substituída por um ethos neoliberal de
individualismo e acumulação: a cidade é coletiva e para todos. Enquanto não for modificado o
comportamento social, promovendo ativismo por redes sociais reais e virtuais, até as próprias
ferramentas urbanísticas estão ameaçadas de decadência.
Description
Teodoro, Pacelli Henrique Martins; Stocco, Aline Faé; Heinen, Luana Renostro.
Keywords
Citation
RIBEIRO, Ítalo Prudente. Política urbana brasileira: neoliberalismo, movimentos sociais e direito à cidade. 2023. 160 p. Dissertação (Mestrado Profissional em Ciências Humanas) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2023.