PPGCH - Mestrado Profissional Interdisciplinar em Ciências Humanas (Dissertações)

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    Sentidos da Festa de Santa’Ana do Inhaí (MG): uma análise fenomenológica
    (UFVJM, 2021) Morais, Ingrid Priscila Alves de; Leite, Roberta Vasconcelos; Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM); Leite, Roberta Vasconcelos; Gaspar, Yuri Elias; Palhares, Virgínia de Lima; Pádua, Letícia Carolina Teixeira
    Estudos que abordam a cultura e a religiosidade popular de comunidades rurais podem desvelar como tais fenômenos entrelaçam-se de modo único e potente, permitindo compreender melhor como parte da população brasileira vive. Neste trabalho, objetivamos investigar os sentidos da festa de Sant’Ana do Inhaí (Distrito de Diamantina/MG) para sujeitos da experiência. Na atenção a diferentes modalidades de sentido (de pertencimento, relacionais, religiosos, econômicos), o intuito é delimitar elementos essenciais da festa para essa comunidade rural. De modo a aprender nuances das múltiplas vivências implicadas na festa enquanto fenômeno, adotamos a Fenomenologia Clássica (Husserl, Stein e Ales Bello) como referencial teórico-metodológico. Temas fundamentais para a pesquisa são desenvolvidos no referencial adotado: elementos essenciais das festas tradicionais; as relações entre tempo sagrado e tempo profano, espaço sagrado e espaço profano; as vinculações entre experiência religiosa e devoção a santos no catolicismo popular brasileiro; as especificidades das vivências comunitárias e das comunidades religiosas. Para a coleta de dados, realizamos pesquisa de campo no Inhaí durante e após as celebrações em homenagem a Sant’Ana no ano de 2019. Selecionamos intencionalmente sete sujeitos que compartilharam conosco suas vivências em relação à festa, alguns de forma presencial e outros de forma virtual. Colhemos relatos que foram transcritos, textualizados e analisados fenomenologicamente segundo as diretrizes de Van der Leeuw. Com esse método de análise, buscamos identificar especificidades das elaborações pessoais e captar elementos compartilhados, tendo como meta delinear como a comunidade do Inhaí vive a festa de Sant’Ana de modo típico. Sendo a pesquisa focada nas elaborações dos sujeitos da experiência, optamos, neste trabalho, por apresenta-las antes dos diálogos teóricos, de modo a valorizar os resultados da pesquisa. Essas elaborações versam sobre sentidos da festa que indicam especificidades de vivências temporais, espaciais, religiosas, comunitárias e de pertencimento. A festa suscita a vivência de um tempo forte e a elaboração sobre as distinções entre o antigamente e o agora, entre o espaço sagrado da fé e o espaço profano da rua. Alguns exaltam a expansão das atrações profanas atraem um público maior de jovens e movimentam a economia local. Outros lamentam o esvaziamento do espaço sagrado e temem pela continuidade da festa se ela perder seu ponto maior. Mesmo divergindo diante dessa tensão em relação ao modo como a festa se divide, devotos e não devotos reconhecem a centralidade de Sant’Ana na constituição da festa, bem como enfatizam o quanto festejar é ocasião de encontros e reencontros. Nos diversos modos de elaborar sentidos da festa, aparece como participar dela se enraíza em participar da comunidade. Na discussão dos resultados com produções sobre outras festas religiosas mineiras, observamos como as relações das múltiplas vivências implicadas em celebrações populares se mostram semelhantes, com um aspecto de resistência enquanto manifestação cultural. Conclui-se que os vários sentidos apreendidos apontam para a festa como vivência de re-união comunitária. Nas diferentes compreensões que diferentes miradas sobre a festa nos permitiram alcançar, colhemos um fio que perpassa, entrelaça, agrega: re-unir em festa é afirmar a comum-unidade.