Reconstituição paleoambiental e relações entre a gênese de turfeiras e o estabelecimento de Capões de Mata na Serra do Espinhaço Meridional, Minas Gerais, Brasil
Date
2023
Authors
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Publisher
UFVJM
Abstract
As turfeiras são ecossistemas transicionais entre ambientes terrestres e aquáticos. Esses
ambientes se formam a partir do acúmulo sequencial da matéria orgânica, que permanece
preservada ao longo do tempo. Devido a essa capacidade de preservação do material
orgânico, uma das muitas funções das turfeiras é a de atuar como arquivos de mudanças
paleoambientais. As turfeiras da Serra do Espinhaço Meridional (SdEM) são ecossistemas
complexos, atualmente colonizados por fitofisionomias de Campo Limpo Úmido e
formações florestais chamadas de Capão de Mata. Apesar das áreas de campo serem
estudadas há algum tempo, ainda são escassos os conhecimentos a respeito do
estabelecimento dos Capões de Mata nos ecossistemas de turfeira da SdEM. Nesse sentido,
os objetivos desse estudo foram: a) avançar nos estudos de reconstituição ambiental a partir
de análise multiproxy de dados de amostras de turfa de testemunhos coletados nessas
turfeiras e b) contribuir para o entendimento dos processos que levaram à gênese e formação
das turfeiras e suas relações com o estabelecimento dos capões. Foram estudadas três
turfeiras da SdEM situadas em diferentes posições altimétricas (Rio Preto e Rio Araçuaí –
1600 m; Pinheiro – 1250m), a partir da análise de amostras dos testemunhos coletados sob
as fitofisionomias de Capão de Mata e Campo Limpo Úmido . Foi realizada a descrição
morfológica e determinadas a composição elementar, geoquímica, isotópica (δ13C e δ15N),
além de datações radiocarbônicas (14C). Também foram realizadas análises de fitólitos em
amostras de turfa do testemunho coletado sob Campo Limpo Úmido (turfeira Rio Araçuaí).
A análise conjunta dos proxys ambientais obtidos a partir de amostras de turfa do testemunho
da turfeira rio Araçuaí permitiu inferir cinco fases de mudanças paleoambientais durante os
últimos 8,9 k anos cal. AP: Fase I (8,9 a 6,6 k anos cal. AP) - ambiente local frio, muito
úmido e com instabilidade da bacia hidrográfica; Fase II (6,6 a 3,9 k anos cal. AP) - ambiente
local muito frio, com umidade reduzida em relação à fase anterior e maior estabilidade na
bacia hidrográfica; Fase III (3,9 a 2,1 k anos cal. AP) - ambiente local mais quente e seco e
instabilidade na bacia hidrográfica, com episódio de queda de temperatura e aumento de
umidade no meio da fase; Fase IV (2,1 k a 0,25 k anos cal. AP) - clima mais frio, aumento
da umidade do ambiente local e maior estabilidade na bacia hidrográfica; Fase V (0,25 k
anos cal. AP até o presente) - aumento da temperatura, diminuição da umidade e aumento
da instabilidade na bacia hidrográfica, possivelmente influenciada pela atividade humana. A
gênese dos ecossistemas de turfeiras da SdEM e o estabelecimento dos Capões de Mata
foram influenciados pela altitude: nas menores altitudes (Turfeira Pinheiro) as turfeiras
começaram a se formar no Pleistoceno Tardio (33,3 k anos cal. AP) e os Capões de Mata se
estabeleceram a partir da segunda metade do Holoceno (Holoceno Megalaino - 2,8 k anos
cal. AP); nas maiores altitudes (Rio Preto) as turfeiras começaram a se formar na primeira
metade do Holoceno (transição Holoceno Gronelandês/ Nortegripiano) e os capões se
estabeleceram a partir do final do Holoceno Megalaino (1,7 k anos cal. AP). As condições
topográficas locais influenciaram o nível do lençol freático e, consequentemente o
estabelecimento dos Capões de Mata. A análise multiproxy dos dados obtidos a partir do
testemunho orgânico da turfeira Pinheiro, coletado sob Capão de Mata, indicou quatro fases
de mudanças paleoambientais: Fase I (33,3 a 32 k anos cal. AP) - período de forte instabilidade (local e regional), com maior ocorrência de plantas C4, provavelmente o capão
de mata ainda não havia se estabelecido; Fase II (32 a 24,2 k anos cal. AP) - aumento do
acúmulo de MO, principalmente no início da fase, diminuição da instabilidade da paisagem
local e maior participação de material mineral regional; Fase III (24,2 a 5,4 k anos cal. AP)
- aumento da instabilidade da paisagem local, com expansão de plantas C4 e aumento de
participação de algas, apesar de ainda ocorrer um predomínio de plantas terrestres; Fase IV)
(últimos 5,4 k anos cal. AP) - mudança no predomínio de espécies de plantas C4 para C3,
indicando o estabelecimento do capão de mata e do aumento da participação de algas, o que
pode estar relacionado a um ambiente mais úmido. Dado o valor dos ecossistemas de
turfeiras da SdEM como arquivos de mudanças paleoambientais, é premente a proteção
integral desses ecossistemas.
Description
Agências financiadoras: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Processos 303666/2018-8, 408162/2018-0, 441335/2020-9 e 302969/2021-7; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) – Processos CRA/APQ 0100-18 e APQ-03364-21, CAG/PPM 00568-16.
Keywords
Citation
COSTA, Camila Rodrigues. Reconstituição paleoambiental e relações entre a gênese de turfeiras e o estabelecimento de Capões de Mata na Serra do Espinhaço Meridional, Minas Gerais, Brasil. 2023. 156 p. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) – Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2023.