A água e a constituição de lugares e da paisagem regional: um estudo dos chafarizes e da rede hídrica de Diamantina, MG

Abstract

O presente trabalho tem o objetivo de estudar e analisar a rede hídrica existente no período colonial na atual cidade de Diamantina, MG. Para essa finalidade, teve-se como objeto de estudo e interpretação de mapas da região do XVIII e mapas do arruamento atual, de modo que se pudesse entender as escolhas envolvidas nesses processo que, em algum casos, ainda traz a evidência física destas estruturas arqueológicas. A existência de elementos como chafarizes, além da descoberta de calhas e tanques subterrâneos, foram utilizados e representados nos mapas elaborados para confirmar ou questionar a existência desses cursos d’água. Além disso, foi realizada uma pesquisa documental para complementar informações acerca das estruturas físicas evidenciadas, sobretudo em periódicos da época em que eram relatados acontecimentos cotidianos que envolviam os chafarizes, as águas e os esgotos. O conceito de patrimônio e sua aplicabilidade nos centros históricos tombados esteve presente nesta dissertação, uma vez que se faz fundamental na compreensão do gerenciamento e gestão destes sítios históricos, assim como a necessidade do estudo da sua estrutura de funcionamento com a finalidade da sua preservação concomitante ao uso, ocupação e apropriação pelos residentes locais. Buscou-se, portanto, o estudo da utilização dos recursos hídricos e a relação do ser humano com a água nos parâmetros de sua simbologia, a necessidade fisiológica, econômica, a característica humana de se apropriar e dominar a água. Como resultado, apresenta-se a confeccção da cartografia temática, produzida a partir do cruzamento de informações, fundamentais para entender os processos de escolhas envolvidos, onde foi possível a representação: (a) das regiões dos quatros arraiais que deram origem ao núcleo urbano da atual cidade de Diamantina, (b) dos arruamentos que se mantiveram até a atualidade, (c) os locais por onde passavam cursos de rios e que deixaram de existir a céu aberto e (d) da relação de status que o acesso à água representava para a sociedade colonial mineira. O estudo ainda permitiu inferências da razão da escolha do assentamento na região, para além dos motivos econômicos e políticos, ou seja, além da mineração diamantífera, evidenciando a relação dos seres humanos com a presença da água, o estabelecimentos de lugares e a constituição da paisagem regional, esta vista como uma construção social. Por fim, em anexo, foi apresentado um inventário de chafarizes que possui relevância por ser esse um instrumento de identificação e proteção dos bens patrimoniais, por meio da sistematização de informação. Neste sentido, a investigação buscou discutir o papel da água para essa sociedade colonial, desde as maneiras de se obtê-la, sua serventia, o uso público e residencial, bem como do consumo da água urbana para além do seu uso para a mineração.