Reconstituição paleoambiental do norte de Minas Gerais através da Vereda Pau Grande, Parque Nacional Grande Sertão Veredas - MG
Date
2020
Authors
Journal Title
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Volume Title
Publisher
UFVJM
Abstract
O interesse por desvendar a história pretérita tem motivado o estudo de ambientes que
preservam sequências de acúmulo de matéria orgânica, o que faz das veredas excelentes
arquivos do paleoambiente e do paleoclima. Caracterizadas pela presença da palmeira buriti, e
ocorrendo especialmente dentro do bioma Cerrado, as veredas encontram-se encaixadas ao
longo de vales pouco profundos sobre as chapadas e chapadões do Brasil central. Poucos são
os estudos de reconstituição que utilizam registros deste ambiente, e escassos são os
conhecimentos para esta região. Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho foi estudar um
testemunho de solo da vereda Pau Grande (PG), inserida no Parque Nacional Grande Sertão
Veredas (Chapada Gaúcha-MG), com fins de reconstituir o cenário pretérito da região norte de
Minas Gerais, em uma abordagem multi-proxy, incluindo a obtenção de dados polínicos e
geoquímicos (elementar e isotópico) combinados com estratigrafia, datações 14C e estatística
multivariada. A idade mais antiga, obtida da base do material orgânico do testemunho, foi de
33.347 anos cal AP, indicando que a formação do solo orgânico deu-se a partir do Pleistoceno
Tardio. A partir da análise conjunta dos proxies, foi possível inferir cinco principais fases de
mudanças paleoambientais. Fase I, entre ~34.000 - 27.408 anos cal AP, indicando alta
instabilidade na bacia da vereda (momentos de forte erosão no local), alternâncias das
vegetações com plantas C4 (típicas de um ambiente mais seco e mais aberto) e vegetações com
mistura C3+C4 o que infere um clima seco nessa fase. Fase II, ~27.408 - 11.182 anos cal AP,
englobando o Último Máximo Glacial (UMG), apresentou sinal essencialmente de plantas C4,
rebaixamento do lençol freático e aumento da relação C/N, sugerindo que provavelmente o
ambiente foi mais seco nesta fase em comparação à Fase I (e também o mais seco do registro
Pau Grande). Fase III, ~11.182 - 6.043 anos cal AP, abrangendo a transição Pleistoceno-Holoceno inferior e Holoceno médio em que o ambiente no geral foi mais úmido em relação às
fases anteriores II e I, devido ao sinal δ13C evidenciar um provável aumento de plantas C3,
aumento da matéria orgânica, presença de uma matéria orgânica mais humificada e mais
halogenada e redução das taxas de decomposição da matéria orgânica. Fase IV, ~6.043 - 1.291
anos cal AP, incluindo o Holoceno médio até o Holoceno superior, caracterizando a fase mais
úmida dos últimos 34 mil anos, com o maior predomínio de plantas C3, vegetação de mata
úmida com estrato arbóreo bem desenvolvido, e é o momento mais estável local e
regionalmente. Nessa fase houve desenvolvimento expressivo da vereda com a expansão da
Mauritia flexuosa (buriti) e Mauritiella armata (xiriri). Fase V, ~1.291 anos cal AP até o
presente, onde houve um retorno ao aumento das plantas C4, o aumento mais expressivo de
algas, a presença de um Cerrado com a vereda e aumento da instabilidade no ambiente local
(retorno a erosão na bacia). Assim houve um ressecamento do ambiente em relação a fase
anterior e a presença da vereda pode indicar clima semiúmido e quente, como ocorre atualmente
na região. A partir desse estudo houve um melhor entendimento da história evolutiva da
paisagem, cujo o conhecimento poderá adicionar novas inferências para o modelo
peleoclimático brasileiro e prover informações para o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) e para os programas de preservação de veredas.
Description
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – código de financiamento 001.
Keywords
Citation
TRINDADE, Rosália Nazareth Rosa. Reconstituição paleoambiental do norte de Minas Gerais através da Vereda Pau Grande, Parque Nacional Grande Sertão Veredas - MG. 2020. 155 p. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2020.