Fatores sociais e ambientais associados à ocorrência da esquistossomose no município de Serro, Minas Gerais
Date
2016
Authors
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Publisher
UFVJM
Abstract
A esquistossomose mansoni é uma doença tropical negligenciada afetando anualmente
milhões de pessoas em todo mundo. É provocada pelo parasito Schistosoma mansoni que,
além do hospedeiro definitivo, depende do ambiente aquático e de caramujos do gênero
Biomphalaria como hospedeiro intermediário para completar seu ciclo biológico. De uma
forma geral, sua ocorrência está associada a grupos sociais vulneráveis vivendo em áreas
deficitárias em serviços de saneamento ambiental e a padrões de comportamento da
população. Além disso, alterações promovidas no ambiente por atividades humanas em
diferentes contextos, sobretudo aquelas que afetam diretamente as coleções hídricas podem
favorecer a instalação ou manutenção de focos da doença. Desta forma, o presente estudo
objetivou analisar os fatores ambientais e sociais associados à dinâmica de ocorrência da
esquistossomose no município de Serro, estado de Minas Gerais. Para tanto, conduziu-se
estudo epidemiológico, de caráter descritivo e quantitativo dos casos de esquistossomose
ocorridos no período 2010-2014, a partir de dados levantados junto ao Programa de Controle
da Esquistossomose de Serro e de entrevistas com a população. Foram identificados 352 casos
diagnosticados no período considerado, dentre os quais 104 participaram das entrevistas. Da
população total afetada, observou-se ser esta predominantemente masculina (62,78%), em
idade economicamente ativa de 15-59 anos (80,1%), com ensino fundamental incompleto
(52,8%) e residindo na área rural (81,5%). Dentre os entrevistados, a maioria era natural do
próprio município (84,7%), morando na atual residência há mais de 20 anos (70%) na qual
convivem de 3-6 pessoas (65,4%). A principal forma de ocupação são as atividades
agropecuárias (48,1%), com a maioria mantendo hábito regular de fazer exames e consultas
médicas (62,5%). A maior parte faz uso de água proveniente de nascentes (56,7%) e
consideram a água consumida nas casas de boa qualidade (86,5%). A maioria das moradias
possui banheiro com vaso sanitário (79,8%) destinando o esgoto para fossas secas no quintal
ou rede de esgoto da rua (73,1%). É expressivo o número daqueles que declararam frequentar
semanal (90,4%) ou quinzenalmente (79,7%) rios, ribeirões e córregos (74,5%), cachoeiras
(13,8%) e açudes (9,6%) na região, na maioria das vezes mantendo contato com as águas para
pescar (55,3%), nadar (56,6%) e fazer travessia de caminho (41,5%). A maioria dos
entrevistados declarou ter alguma informação sobre a doença antes de ser diagnosticado
infectado (81,7%) e 62,5% não retornaram aos serviços de saúde para realizar o exame após
tratamento medicamentoso. A distribuição da esquistossomose no município de Serro esteve
significativamente agregada na porção leste do município, em áreas com menor variação na
elevação e declividade, maiores índice de vegetação e umidade, associada a áreas com maior
proporção de domicílios cujo esgotamento sanitário ocorria diretamente em cursos d’água.
Observou-se, ainda, que o maior número de casos da doença ocorreu em localidades drenadas
por rios da bacia hidrográfica do Rio Doce. Diante das particularidades apresentadas na
extensão do município, principalmente em relação à espacialização da doença entre as duas
grandes bacias hidrográficas do município (Jequitinhonha e Rio Doce), as informações
apresentadas podem contribuir para o direcionamento das ações de controle na escala
municipal, seja por meio de estruturação sanitária e ambiental, ou por meio de orientações
quanto ao comportamento e exposição às coleções hídricas eventualmente contaminadas por
parte da população.
Description
Keywords
Citation
SISTE, Carlos Eduardo. Fatores sociais e ambientais associados à ocorrência da esquistossomose no município de Serro, Minas Gerais. 2016. 120 p. Dissertação (Mestrado Profissional) – Programa de Pós-Graduação em Saúde, Sociedade e Ambiente, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2016.