Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A: representações sociais, conhecimentos e práticas em um município do Vale do Jequitinhonha

Abstract

O objetivo deste estudo foi analisar representações sociais, conhecimentos e práticas relacionadas ao Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A (PNSVitA), em um município do Vale do Jequitinhonha. Esse Programa está instituído no âmbito do Sistema Único de Saúde, com vistas à prevenção/controle da Deficiência de Vitamina A (DVA), um dos principais problemas de saúde pública relacionados à alimentação e nutrição da atualidade. Como aporte metodológico, adotou-se a abordagem qualitativa e a Teoria das Representações Sociais. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e focalizadas com vinte mães de crianças beneficiárias do PNSVitA, sendo esse número definido por inclusão progressiva, interrompida pelo método de saturação. As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo na modalidade temática. Com relação às práticas referentes ao PNSVitA, este estudo revela que a suplementação de vitamina A tem sido uma estratégia vinculada ao Programa Nacional de Imunização, questão que pode ter repercussões positivas e negativas. Demonstra que a prática de suplementação tem sido desacompanhada de um adequado processo de comunicação, informação e educação voltado à população beneficiária, o que pode influenciar no conhecimento e nas concepções que as mães possuem a respeito da vitamina A, da DVA e do PNSVitA. Indica que a suplementação com megadoses da vitamina tem sido a estratégia central de prevenção/controle da DVA e sugere a inexistência de atividades voltadas à promoção de uma alimentação adequada e saudável. No tocante aos conhecimentos das mães acerca da temática em estudo, evidencia-se que, em geral, eles são ausentes ou não correspondentes ao descrito na literatura científica e técnica, questão que pode influenciar no reconhecimento da DVA como problema de saúde pública local e na adoção de corresponsabilidade pelas medidas preventivas. A partir da análise dos conhecimentos, com base na Teoria das Representações Sociais, este estudo revela que algumas mães veem a vitamina A como a “vitamina do posto”, o que indica a concepção primária desse nutriente como medicamento e não como elemento constituinte dos alimentos. Revela a concepção de que a vitamina A é uma vacina ou simplesmente uma vitamina (de forma genérica) e, por fim, demonstra que essa vitamina é valorizada pelas mães, mesmo que, em alguns momentos, elas não compreendam sua importância. Conclui-se que, para efetiva prevenção/controle da DVA, faz-se necessária a priorização das estratégias baseadas em alimentos em detrimento da suplementação medicamentosa de vitamina A, tendo em vista o direito humano à alimentação adequada. Além disso, faz-se necessário o desenvolvimento/fortalecimento de atividades educativas voltadas à população acerca dessa carência nutricional e das ações destinadas a sua prevenção/controle.