O papel de distúrbios sobre a estabilidade de comunidades florestais na Amazônia: integrando modelagem e sensoriamento remoto
Date
2021
Authors
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Publisher
UFVJM
Abstract
As interações entre desmatamento, seca, fogo, extração de madeira e efeitos de borda têm causado
incêndios florestais com alta intensidade e em extensas áreas, favorecendo a degradação
florestal acelerada em grandes porções da Amazônia. Estes distúrbios aumentam direta e indiretamente
a inflamabilidade da floresta. Diretamente eles promovem um microclima mais seco
e reduzem a umidade do material combustível. Enquanto que indiretamente influenciam na diminuição
da umidade do solo desencadeando a perda de biomassa viva, como a queda de folhas
e a mortalidade de árvores, o que contribui para o aumento do material combustível. Esses
efeitos diretos e indiretos podem causar incêndios florestais mais abrangentes e intensos com
maior impacto nos estoques de carbono florestal da Amazônia influenciando no ciclo de carbono
global. Estes processos tendem a se intensificar em cenários de mudanças climáticas
sendo mais frequentes e intensos à medida que o clima global muda. Além disso, esta degradação
pode expor grandes áreas de floresta à invasão por gramíneas que podem promover transições
para florestas degradadas pobres em espécies e com estrutura similar a uma savana. No
entanto, nossa capacidade de prever os locais na Amazônia que são mais vulneráveis a essas
transições ainda é reduzida. Para este fim, expandimos e aperfeiçoamos um modelo ecossistêmico
de fogo acoplado para melhor representar como a seca, as mudanças climáticas e os efeitos
de borda associados ao desmatamento podem afetar a probabilidade de invasão de gramíneas
após um incêndio florestal na Amazônia. Buscamos também identificar onde as retroalimentações
provocadas pelas interações fogo-gramíneas podem promover a persistência de florestas
degradadas com estrutura similar a uma savana, mantido pela recorrência de fogo. Em condições
climáticas atuais, 14% da Amazônia é vulnerável à invasão de gramíneas, com o sudeste
sendo a região mais vulnerável. Sob cenário de mudanças climáticas, até o final do século, cerca
de 21% da Amazônia apresenta alta probabilidade de invasão de por gramíneas após fogo. Nossos
resultados também indicam que em cerca de 3% da Amazônia (mais de 100.000 km2), os
intervalos de retorno do fogo já são mais curtos do que o tempo que seria necessário para o
fechamento do dossel, implicando em um alto risco de uma mudança irreversível para uma degradação mantida pelo fogo. Embora a resiliência na regeneração do dossel seja evidente em
áreas com baixa frequência de fogo, o aumento de sua frequência pode inibir a regeneração do
dossel e favorecer a aproximação de um ponto de inflexão para algumas partes da Amazônia,
fazendo com que grandes áreas de floresta façam a transição para uma floresta degradada com
baixa cobertura de árvores. Ademais, nossas simulações de crescimento florestal também sugerem
que regiões gravemente afetadas pelos distúrbios e suas sinergias podem ter perda significativa
de biomassa, levando dezenas de anos para sua recuperação integral. Os valores máximos
atingem 184 anos para recompor o estoque de carbono inicial. Nosso estudo mostra como
modelos, combinados com dados de sensoriamento remoto, podem ser usados como ferramentas
para complementar os estudos de campo sobre a recuperação florestal, possibilitando avaliar
em escalas mais largas a dinâmica espacial e temporal dos processos de recuperação florestal.
Isso contribui para o planejamento, decisão e formulação de políticas de mitigação e adaptação
as ameaças presentes na Amazônia atual e futuramente.
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Citation
FARIA, Bruno Lopes de. O papel de distúrbios sobre a estabilidade de comunidades florestais na Amazônia: integrando modelagem e sensoriamento remoto. 2021. 104 p. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2021.