Efeitos da exposição materna a dieta hiperlipídica e lipopolissacarídeo sobre os parâmetros neuroinflamatórios, estado redox e comportamento de ratos Wistar adolescentes
Date
2021
Authors
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Publisher
UFVJM
Abstract
Durante os períodos embrionário e neonatal o sistema encefálico da prole encontra-se em
pleno desenvolvimento, sendo muito susceptível a interferências ambientais. Dentre esses
fatores interferentes, a exposição a uma dieta materna hiperlipídica é capaz de proporcionar
neuorinflamação na prole e, consequentemente, alterações no comportamento ao longo da
vida. Em contrapartida, a exposição materna a baixas e consecutivas doses de
lipopolissacarídeo (LPS) vem surgindo na literatura como uma alternativa para modulação do
estado neuroimune. Este efeito modulatório está relacionado ao potencial de atenuação ou
hiporresponsividade da resposta imunológica após subsequentes aplicações do LPS, levando a
um efeito de tolerização ao LPS. No entanto, estudos que abordam os efeitos da reexposição
ao LPS em associação com a dieta materna hiperlipídica durante a gestação e lactação sobre o
comportamento de ratos adolescentes ainda são escassos. Portanto, o objetivo desse trabalho
foi avaliar o efeito protetor da tolerância ao LPS sobre os parâmetros neuroinflamatórios, do
estado redox e comportamento (memória e ansiedade) na prole adolescentes de ratas Wistar
tratadas com dieta hiperlipídica durante a gestação e lactação. Inicialmente 40 ratas Wistar
fêmeas foram colocadas em caixas com a presença de ratos machos para cruzamento. Com a
confirmação da cópula, as fêmeas foram destinadas ao alojamento isolado nas gaiolas, sendo
definido esse como o dia “zero” da gravidez (GD0). A partir do GD0 as fêmeas receberam
dieta padrão (n = 20; ração Nuvilab®) ou dieta hiperlipídica (n = 20; ração Nuvilab acrescida
de banha de porco). No GD8 as ratas gestantes receberam via intraperitoneal veículo (salina)
ou LPS (0,1mg.kg-1), tratamentos que se repetiram no GD10 e GD12. No 21º dia de lactação
ocorreu o desmame da prole, que foi redistribuída (de acordo com a dieta e o tratamento das
suas respectivas mães) isoladamente nas gaiolas, formando os grupos: Controle – filhotes das
mães que receberam dieta padrão e aplicação intraperitoneal de salina (n = 60);
Lipopolissacarídeo (LPS) – filhotes das mães que receberam dieta padrão e aplicação
intraperitoneal de LPS (n = 60); Hiperlipídica (HP) – filhotes das mães que receberam dieta hiperlipídica e aplicação intraperitoneal de salina (n = 60); Lipopolissacarídeo + Hiperlipídica
(LPS+HP) – filhotes das mães que receberam dieta hiperlipídica e aplicação intraperitoneal de
LPS (n = 60). Após o desmame, todos esses animais (prole) receberam, até o 50º dia de vida,
dieta padrão e água ad libitum. Entre o 42º e o 49º dia de vida, a prole de machos adolescentes
realizou os testes comportamentais de memória (reconhecimento de objetos de curto e longo
prazo), ansiedade (labirinto em cruz elevado, campo aberto, transição claro-escuro) e
capacidade motora (rotarod). Parte dos animais foram eutanasiados no 21º dia de vida (n = 6
por grupo), enquanto o restante foi eutanasiado no 50º dia. Nesse momento foram retirados o
córtex pré-frontal, o hipocampo e a amígdala para avaliação de citocinas pró (IL-1β, IL-6,
TNF-α) e anti-inflamatórias (IL-10), e dos níveis de fator neurotrófico derivado do encéfalo -
BDNF (este apenas no hipocampo). Além disso, foram avaliadas nessas estruturas o estado
redox, através da capacidade antioxidante (método FRAP), enzimas antioxidantes (catalase,
superóxido dismutase, glutationa peroxidase) e marcadores do estresse oxidativo (método
TBARS e proteína carbonilada). A prole HP demonstrou aumento de IL-6 no hipocampo aos
21 dias de vida, enquanto que os animais LPS+HP reportaram elevação dos níveis de IL-10.
No 50º dia foram observados maiores níveis de IL-10 no hipocampo dos animais LPS+HP,
preservação dos seus níveis na amígdala, e menores concentrações dessa citocina na amígdala
da prole HP. Em relação ao estado redox no 50º dia de vida, foi reportado melhora na
capacidade antioxidante no córtex pré-frontal, hipocampo e na amígdala dos animais do grupo
LPS+HP. Os resultados das dosagens de citocinas indicam que a prole HP desenvolveu um
estado neuroinflamatório. Enquanto isso, o grupo LPS+HP demonstrou uma proteção nas
regiões do hipocampo e da amígdala, devido ao aumento (hipocampo) ou preservação
(amígdala) dos níveis de IL-10, além da elevação de enzimas antioxidantes. A IL-10 regula a
ativação glial e está relacionada com um efeito compensatório para contenção da inflamação,
estando também associada a melhora de processos cognitivos e na prevenção de doenças
neuropsiquiátricas. Nos testes comportamentais, o grupo HP reportou prejuízos na memória
de curto prazo e desenvolvimento de comportamento tipo-ansioso. Em contrapartida, a
memória dos animais LPS+HP foi preservada e nenhum comportamento tipo-ansiedade foi
observado nesse grupo. Esses resultados indicam que o efeito de tolerização promovido pela
reexposição ao LPS nas mães que receberam dieta hiperlipídica foi capaz de modular o estado
neuroimune do hipocampo e da amígdala da prole LPS+HP, o que preveniu alterações
comportamentais na memória e ansiedade na adolescência desses animais.
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Keywords
Citation
GOMES, Arthur Rocha. Efeitos da exposição materna a dieta hiperlipídica e lipopolissacarídeo sobre os parâmetros neuroinflamatórios, estado redox e comportamento de ratos Wistar adolescentes. 2021. 146 p. Tese (Doutorado Multicêntrico em Ciências Fisiológicas) – Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2021.